rápido como um raio desci as escadas
procurei saber do grande barulho
que vinha dos primeiros degraus
tudo parecia muito, muito calmo
minutos antes do terrível estouro
o prédio tremera sob as ondas do som
parecia que algo terrível acontecera
enquanto descia a escada
meu cérebro em parafuso tentava
descobrir realmente o acontecido.
antes do devido estrondo, também
ouvia um vinil antigo da mercedes sosa
o disco, mercedes sosa interpreta
las canciones de atahualpa yupanqui
um disco com a capa totalmente preta
nela a mercedes sosa bate um tambor
nele o meu coração bate junto.
o disco datado com o ano de 1978
lembrava-me quando tinha 30 anos.
a escada parecia não ter mais fim
quanto mais descia, mais degrau surgia
minha cabeça girava em demasia
a vontade era muito grande
de chegar ao local do ocorrido
quanto mais vontade tinha
de tomar posse do fato
mais o meu cérebro balançava
dentro da caixa encefálica
cogitava, alguém se machucara
a vida é interessante e desagradável
joga a gente sem ao menos perguntar
se a gente quer realmente viver
do nada, ela nos arremete
aos braços do acaso e do mistério
todavia, pensando bem
quem nos manda pra cá
é certamente muito inteligente
ninguém em sã consciência
viria para um mundo como o nosso
sem antes perguntar como são
as coisas que estão por aqui
fatalmente nossa grande resposta
seria um sonoro e grandioso não
finalmente cheguei aonde queria
e vi uma chapa de mármore
transformada em pedaços no chão
uma mulher e um rapaz olhavam-na
passei a catar os pedaços e
em seguida, empilhá-los na parede
cada um pesava mais que o outro
senti então no alto da situação
que também catava, sim
sem a menor dúvida, claro
os cacos da minha vida
anibal, 2011
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