sexta-feira, 23 de novembro de 2012

a escada














rápido como um raio desci as escadas
apavorado, como de sempre
procurei saber do grande barulho
que vinha dos primeiros degraus
tudo parecia muito, muito  calmo
minutos antes do terrível estouro
o prédio tremera sob as ondas do som
parecia que algo terrível acontecera
enquanto descia a escada
meu cérebro em parafuso tentava
descobrir realmente o acontecido.
antes do devido estrondo, também
ouvia um vinil antigo da mercedes sosa
o disco, mercedes sosa interpreta
las canciones de atahualpa yupanqui
um disco com a capa totalmente preta
nela a mercedes sosa bate um tambor
nele o meu coração bate junto.
o disco datado com o ano de 1978
lembrava-me quando tinha 30 anos.
a escada parecia não ter mais fim
quanto mais descia, mais degrau surgia
minha cabeça girava em demasia
a vontade era muito grande
de chegar ao local do ocorrido
quanto mais vontade tinha
de tomar posse do fato
mais o meu cérebro balançava
dentro da caixa encefálica
cogitava, alguém se machucara
a vida é interessante e desagradável
joga a gente sem ao menos perguntar
se a gente quer realmente viver
do nada, ela nos arremete
aos braços do acaso e do mistério
todavia, pensando bem
quem nos manda pra cá
é certamente muito inteligente
ninguém em sã consciência
viria para um mundo como o nosso
sem antes perguntar como são
as coisas que estão por aqui
fatalmente nossa grande resposta
seria um sonoro e grandioso não
finalmente cheguei aonde queria
e vi uma chapa de mármore
transformada em pedaços no chão
uma mulher e um rapaz olhavam-na
passei a catar os pedaços e
em seguida, empilhá-los na parede
cada um pesava mais que o outro
senti então no alto da situação
que também catava, sim
sem a menor dúvida, claro
os cacos da minha vida

anibal, 2011

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