Meu pai,
Antonio Hygino (in memoriam), tinha um boteco na Rua Conceição, 65, Recreio, MG, onde os
homens que trabalhavam no trem de lenha aportavam depois do árduo trabalho para
tomar uma branquinha com tira-gosto e depois, ainda sujos, iam para suas casas
levando um presentinho para suas mulheres, tanto assim que era comum no Café
Sto. Antônio uma vitrine com vidrinhos de perfume chamado Dirce, era realmente
um momento bastante agitado com o meu pai atendendo no balcão e a minha mãe na
cozinha bastante atarefada, imagine aqueles homens cheirando à lenha, conversando
o tempo todo, agitando o ambiente, era realmente assustador, todavia, meus pais já estavam acostumados com aquela situação.
Bons
tempos, boas lembranças, tanto assim que compus Trem de Lenha para registrar
este momento precioso de minha infância.
TREM DE
LENHA (Anibal
Werneck de Freitas) No Café Sto. Antônio, / Negros, brancos e
mulatos, / Iguais na cor do carvão / Chegam famintos e fracos. / No Café
Sto. Antônio, / Gordurão, pão e pernil, / Risos, papos e histórias, / Cerveja e
cachaça de barril. / São os homens do trem de lenha / Formando um quadro que se
ilumina. / São os homens do trem de lenha / Que a sociedade discrimina. / No
Café Sto. Antônio / Brotam força e emoção / Da inocência destes homens, /
Filhos do trem e do carvão. / No Café Sto. Antônio / Pra voltarem às suas
‘misses’ / Jogam no corpo suado e sujo / Um perfume chamado Dirce’ / São os
homens do trem de lenha / Formando um quadro que se ilumina. / São os homens do
trem de lenha / Que a sociedade discrimina. / No Café Sto. Antônio / Pra
voltarem às suas ‘misses’ / Jogam no corpo suado e sujo / Um perfume chamado
‘Dirce’.
Anibal
Werneck de Freitas.