terça-feira, 29 de julho de 2014

LUA NUA [autobiografia de um compositor desconhecido] 1



1. INFÂNCIA

Recreio, Minas, 19 de julho de 1948, minha mãe sofria as dores do parto, meu pai saiu atrás de uma parteira famosa na localidade, a Dona Sebastiana, que antecipou o meu nascimento provocando assim um problema que foi resolvido pelo médico Dr. Darcy, através de fórceps, do contrário eu e minha mãe teríamos morrido. O dia certo seria 20 de julho, dia de São Vicente, meu nome não seria Anibal e sim, Vicente de Paula. Resumindo, cheguei ao mundo no dia errado.
Minha infância foi bastante tumultuada, meus pais, Antonio Hygino e Wanda, trabalhavam muito, fazendo doces e salgados para atender a demanda crescente de fregueses no botequim e, para complicar as coisas, minha vó Luíza entrava no meio da minha educação, sempre me protegendo muito das traquinagens que eu fazia, ao ponto de provocar algazarras de meninos da minha rua na frente do estabelecimento do meu pai, querendo me bater.
Por outro lado, tomava injeção todos os dias para não deixar a minha cabeça crescer mais, até hoje não sei o que eu tinha, só sei que hoje padeço de um zumbido nos ouvidos que tem prejudicado muito a minha qualidade de vida.
Em 50, nasceu o meu irmão Marco Antônio e assim começamos a dividir o espaço de nossa casa, depois dos meus 7 anos de idade com a brincadeira de fazer cinema, ou seja, ficávamos atrás de um lençol iluminado fazendo piruetas com a plateia no escuro, nós tínhamos até tabuletas anunciando os filmes, agora, não me perguntem como elas eram porque hoje não faço a mínima ideia, só sei que as sessões lotavam, acredito que a gente cantava, também.
Lembro-me, muito bem, que os meus banhos eram demorados, ficava cantando à capela ininterruptamente no banheiro, era o meu maior prazer cantar, aliás, até hoje. Na época, anos 50, os Demônios da Garoa faziam o maior sucesso com a música, Trem das Onze e, Neil Sedaka com, Oh, Carol!
Meu pai tinha um vendedor ambulante chamado, Benedito e eu andava com ele para todos os lados da cidade, ele vendia uvas. Certa vez, fui parar na Zona, lugar que ele frequentava sempre e aí ele me deixou sozinho com as mulheres para me poupar de uma longa caminhada que tinha de fazer como vendedor e, assim, eu fiquei na minha. Depois que o Benedito saiu, elas fizeram a maior festa comigo, eu tinha cerca de cinco anos, acho que o instinto materno bateu forte nelas porque ainda me lembro muito bem de uma mesa com o mulherio todo à minha volta. Minha mãe ainda conta que eu cheguei em casa de banho tomado e bem alimentado, quanto ao Benedito, este, levou a maior bronca do meu pai que já estava desesperado com a sua demora. 
Desde cedo, sempre gostei de música, tanto assim que cheguei a frequentar aulas de teoria musical na casa do Maestro Milagre da banda da cidade que tocava sempre no coreto, tinha, eu,
aproximadamente oito anos de idade e meus pais chegaram até a pensar em comprar um piano.
Infelizmente, o maestro foi embora, o piano ficou na conversa e a minha avó Luíza, muito católica, colocou eu e o meu irmão, Marquinho, no catecismo da Igreja, cujas aulas eram administradas pela minha tia Cidinha que era também secretária do Pe. Higino Lateck, alemão de origem e, por isso mesmo, bastante enérgico.
Mais tarde, com dez anos, virei coroinha e o sacerdote era outro, o Pe. Celso Campos Sales. Pois bem, de coroinha para seminarista foi um pulo. Confesso que eu gostava de ajudar a Missa em latim e ouvir pelo rádio, à noite, junto de minha mãe, uma novela bíblica, cujo prefixo era idêntico ao do filme, Os 10 Mandamentos, de Cecil B. Demille, cujo filme assisti no Cine Theatro Central de Juiz de Fora, com os meus pais que na ocasião fizeram uma visita aos parentes de minha mãe, donos de uma fazenda de gado holandês, onde hoje é o bairro de Linhares, isso foi em 1960.
Nesta época eu já tinha mais dois irmãos, a Janine e o Antônio Carlos. 
Certa vez, brincando de faroeste [brincadeira comum da molecada] dentro de casa, eu dei um tiro na minha irmã e pedi para para que ela se fingisse de morta e, deste modo, continuamos a brincar, eu, o Turibinha e o Marquinho, depois de muito tempo notamos que a Janine continuava deitada, achei que tinha matado realmente a minha irmã, mas quando chegamos perto, vimos que ela estava dormindo. Outra brincadeira que eu e o Turibinha tínhamos era bem perigosa, a gente dava um cabo de vassoura pro meu irmão mais novo e mandava ele descer o cacete na gente. Ele, inocente, dava cacetada pra valer e a gente ficava no maior sufoco, porque o bom da coisa: a porretada era pra valer, tinha hora que ele acertava a gente e, mesmo doendo muito, a gente achava a maior diversão, loucuras da infância.
Em 1961 fui pro Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida de leopoldina(MG) e, neste período, nasceu a minha irmã, Ana Luíza.





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