sexta-feira, 4 de outubro de 2013

POBRES ALMAS


Da igreja de N. S. da Conceição até à capelinha lá embaixo na pracinha, eu sinto os meus pés arderem sobre as pedras castigadas pelo sol do meio dia, pedras estas colocadas pelo sangue do negro banhado de suor sob o chicote do feitor nos tempos idos que ficaram por isso mesmo, aliás, o castigo era como uma paga pelos pecados tirando assim a necessidade do escravo ir até ao confessionário do padre, no fundo da alma branca, o açoite era até um favor, como dizia nos sermões infindáveis que os homens de cor por estarem no cativeiro já estão pagando pelos seus pecados e assim, uma vez beneficiados tinham mais que trabalhar em prol do Deus dos dominadores que enterravam seus mortos no subsolo do templo.
Quanto ao meus pés, ardiam como fogo, talvez o fogo do inferno que foi daquelas pobres almas de outrora, cujos descendentes continuam ardendo no fogo da pobreza e da indiferença nos dias de hoje.

Anibal Werneck de Fritas.

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